Tudo começou com uma participação dos alunos da Faculdade de Letras.
No dia 17 de Janeiro de 2021, o aluno Pedro Miguel Oliveira envia a participação na qual diz:
O Professor Doutor xxxxx, no decorrer das suas aulas, realizou vários atentados à cidadania, que não devem passar impunes e que desprestigiam o bom nome da Universidade do Porto, da Faculdade de Letras e da Faculdade de Economia.
Sem necessidade de grandes contextualizações, seguem exemplos de atitudes e participações do docente na aula, muitas das quais incitam o ódio e constituem crimes de assédio e discriminação.
Vejamos os factos relatados na participação:
7. O Professor xxxxxx realizou vários ataques racistas e xenófobos, dirigidos a pessoas de cor e a ciganos.
8. Um dos ataques constantes eram relativos ao continente Africano, contando histórias mal fundamentadas e sem qualquer tipo de responsabilidade social no que dizia, como por exemplo que em África só se usa roupa reciclada, em segunda mão;
12. O Docente constantemente discriminava os alunos brasileiros, chegando numa aula a afirmar, e citamos novamente, que “as mulheres brasileiras são uma mercadoria”;
São estes os únicos 2 factos relatados na participação e que permitiram os alunos concluir que o docente realizou vários ataques racistas e xenófobos, dirigidos a pessoas de cor e a ciganos.
Quero vincar que ataques racistas e xenófobos, dirigidos a pessoas de cor e a ciganos não são factos mas uma conclusão tirada a partir dos dois factos relatados na participação. E que, como queria dar força à sua conclusão, estes dois factos seriam, obrigatoriamente, os mais graves.
Foi algum africano, cigano ou brasileira que se queixou?
Não mas é próprio da "cultura" woke: alguém decide que uma pessoa ofende outra pessoa mesmo que essa pessoa não se ache ofendida.
Digamos que esta 'cultura' está contida na recorrente afirmação "Está a sofrer tanto que o melhor PARA ELA é acabarmos com o seu sofrimento" (isto é, matá-la) mesmo que a pessoa diga que está bem e muito feliz.
Preciso explicar de onde vem "as brasileiras são mercadorias".
O tal docente nunca disse tal coisa até porque a sua avó era brasileira do Estado Federativo de São Paulo e a sua mulher era brasileira do Estado Federativo do Rio de Janeiro.
A disciplina era de Introdução à Economia e teve de explicar o conceito de "mercadoria" aplicado ao trabalho.
Mercadoria é algo que se transacciona no mercado em troca do preço. Em termos etimológicos resulta do termo latino mercor que traduz "negociar" os termos da troca, nos tempos de hoje, negociar o preço. Mas o trabalho tem três formas diferentes de ser mercadoria:
1 = Quando se contrata uma pessoa para "apanhar 500 kg de maçãs", a mercadoria é o serviço de apanhar as maçãs (denomina-se por "trabalho não subordinado").
2 = Quando se contrata uma pessoa para "apanhar maçãs durante 8 horas", a mercadoria é o tempo de trabalho (denomina-se por "trabalho subordinado").
3 = No tempo da escravatura, quando se adquiria uma pessoa para "apanhar maçãs", a mercadoria é a própria pessoa (nos dias de hoje seria "trabalho subordinado").
Acontece que a mãe da avó materna do tal professor nasceu no Brasil em 1853 na condição de escrava e que apenas foi libertada quando já tinha 35 anos. Pode ter acontecido que, para contextualizar, o tal professor tenha dito, talvez, a seguinte frase:
A mãe da minha avó materna era brasileira e nasceu em 1853 na condição de mercadoria o que apenas deixou de ser quando já tinha 35 anos, no dia 13 de Maio de 1888, quando a Lei Áurea acabou com a escravatura no Brasil.
E nunca que as brasileiras de hoje são mercadoria.
Dirão que é impossível ter sido apenas isso!!!!!
Parece mesmo impossível mas foram apenas estes dois factos, mais nada. Foi, a partir daqui, que se concluiu que o tal professor é racista e xenófobo e que, por isso, tinha de ser despedido ao fim de 33 anos de serviço na Universidade do Porto, sempre com avaliação positiva.
Penso que nem no tempo do Salazar tais factos teria sido suficiente para justificar o despedimento.
O problema é que a conclusão "racista, xenófobo" passou a ser tratado como se fosse um facto.
Demoliu barracas?
Não.
Deu notas inferiores a pessoas pelo facto de pertencerem a uma minoria?
Não.
Deixou de ensinar, tirar dúvidas ou de responder a alguém por alguma das suas características?
Não.
Mas não interessa, o que interessa é que é racista e xenófobo.
No tempo do Salazar escreveriam "É um facto que é uma ameaça à segurança do Estado".
À velocidade a que funcionam os tribunais administrativos ...
Haverá uma decisão lá para 2040, quando o professor tiver 75 anos.
No entretanto, o pequeno ditador não sofre qualquer dano, é totalmente inimputável.
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