segunda-feira, 28 de julho de 2025

A racionalidade económica de os imigrantes viverem em barracas.

Eu já fui sem abrigo.

Actualmente, a habitação traduz a maior despesa de uma pessoa que quer manter um 'normal' modo de vida numa cidade (e que não é proprietário de uma casa já amortizada). No meu caso pessoal, tenho um apartamento enorme para uma pessoa que vive só, tem 216 m2, além da cozinha e de quatro casas de banho, tem quatro quartos, duas salas e 3 arrumos. Como comprei-a a dinheiro em 1999, gasto 250€/mês incluindo IMI, seguro, condomínio, electricidade, água e pacote de Internet, televisão e telemóvel.

Comprei o meu apartamento por pressão da minha mãe e foi uma das melhores coisas que fiz na minha vida. Nunca mais me preocupei com ter sítio onde pousar o esqueleto.

Apesar de hoje ter um apartamento grande, até 2000, os meus pais viviam num apartamento muito pequenino que eu lhes tinha comprado quando comecei a trabalhar, tinha 77 m2 e os meus pais tinham 6 filhos.


Enquanto criança, odiava os meus pais.

Sim, por razão de me baterem de forma que eu achava injusta, odiava os meus pais. Ainda hoje sofro do que auto-diagnostiquei de 'transtorno de estresse pós-traumático' e lembro-me todos os dias da violência de que fui vítima. Só para dar uma ideia, há 2 anos decidi ser operado a uma catarata que tinha no olho esquerdo desde os 11 anos causada por uma bofetadas do meu pai.

Eram tempos diferentes, agora são os filhos que batem nos pais, os alunos nos professores e os ladrões nos polícias.

Vendo o esforço que a minha mãe fez para que eu pudesse tirar o meu curso sem me preocupar em trabalhar, na minha idade adulta mandei isso para trás das costas.


Vamos à questão de eu ser sem abrigo.

Quando era estudante, já lá vão 40 anos, o meu colega de quarto e de curso era de Lisboa e, contava-me que ia ao Algarve de bicicleta levando apenas um saco cama, a roupa do corpo e uns poucos tostões, passando à condição de sem-abrigo durante as férias. Como queria viver essa experiência, ser sem abrigo, decidi então passar 30 dias sem casa. Eu e a minha mulher, podem achar estranho mas há mulheres e mulheres, compramos um colchão de espuma e um saco cama e metemo-nos a caminho pelo mundo fora.

Fiz vários períodos de 30 dias sendo que, durante todo eu período, não trocava de roupa.

Lembro-me de estarmos em Lisboa a dormir à porta da Estação de Santa Apolónia, na calçada central da rotunda, juntamente com dezenas de outras pessoas. Dormimos na rua em Madrid, Paris, Barcelona, Berlim, Roma, Milão, Marselha, Genebra, Frankfurt, Funchal, Porto Santo, e muitos outros sítios. 


Será terrível não ter casa e dormir na rua?

Não, aguenta-se bem.

No meu caso, transportávamos tudo às costas, a minha mochila pesava 20 kg e a da minha mulher 12 kg. Digamos que eram as consequências do dimorfismo sexual, apesar de termos exactamente o mesmo peso, 62 kg, eu carregava mais porque era mais forte.

Transportar à costas reduz a quantidade de coisas que podemos ter e a mobilidade durante o dia pelo que, neste caso, é obrigatório serem várias pessoas (durante o dia, uma delas fica a guardar as mochilas). É esta a razão para as barracas surgirem como um aglomerado, desde a antiguidade é necessário proteger os bens das investidas dos estranhos ao grupo, dos 'estrangeiros'.


Vamo-nos colocar na pele de um emigrante que vem de um país pobre.

No outro dia meti conversa com um jovem que estava a meter publicidade nos carros e fiquei a saber que veio do Mali e que se chamava qualquer coisa parecida com Charles. 

No Mali vivia na capital Bamako e ganhava 90€/mês, 1.5 vezes o salário mínimo. Vivia numa moradia pela qual pagava 20€/mês e o restante era para transportes e para sustentar a família que incluía a mãe, a mulher e os 3 filhos pequenos. Naturalmente, a dita moradia não passa de uma barraca, sem água, electricidade ou saneamento.

Um moradia nos subúrbios da capital do Mali, Bamako

Deixou a família em Bamako e veio para Portugal (negou que tivesse vindo de barco :-) com a ideia de ganhar 50€/dia. Penso que, com tal salário, facilmente retirava 90€/mês para enviar à família, 50€/mês para amortizar a dívida da viagem e poupava o suficiente para comprar uma moradia na sua terra natal.


O problema são os preços relativos.
Se lá a família continua a pagar 15€/mês pela moradia, aqui queriam-lhe 350€/mês por um quarto. Pensou ele, "Se formos morar 12 num quarto, já só pago 30€/mês, já poupo muito".
Se assim o pensou, logo assim o fez.

Será melhor viver com mais 11 num quarto ou ter 315€/mês de poupança?
Os 315€/mês de poupança correspondem a 3.5 salários do Mali.
Se conseguir poupar esse dinheiro, ao fim de 2 anos, consegue comprar uma moradia no Mali.
A mente e as contas com o dinheiro continuam no Mali, da mesma forma que a mente dos portugueses de Paris esta algures numa aldeia do interior de Portugal. As crianças queriam bolos porque não conheciam Portugal mas os pais diziam "Nem pensar, pelo dinheiro de um pastel, compram-se 3 galinhas em Portugal e a tua avó precisa das galinhas."


A segunda verba a cortar é a alimentação.

Ir comer a um tasco são pelo menos 5€ por refeição o que dá, no Mali, trigo e centeio mais do que suficiente para toda a família comer o dia todo.

Mais uma vez, decidi fazer uma experiência, alimentar-me com ração para animais!!!!! Foi uma investigação que demorou meses porque não encontrava fornecedor em pequenas quantidades.

Estudei a composição das diversas matérias primas e conclui que o melhor seria comprar bagaço de soja transgénica. Fiz perguntas, telefonei mas diziam todos "Não fazemos entrega ao domicílio, tem de trazer o camião." Apenas encontrava bagaço de soja à tonelada, um mínimo de 25 toneladas.

A soja é uma espécie de feijão e o bagaço de soja é o que fica depois de extrair o óleo. Pode-se comer seca (pois já foi cozinha no processo de extracção do óleo) ou juntar a outras coisas como, por exemplo, arroz, sopa ou fazer pão.

Depois de várias tentativas e de quase ter desistido, encontrei Soja 44% na empresa M.C.Rios em Albergaria a Velha. Tem 44% de proteína completa em peso, totalmente igual à da carne, mas muito mais barato, comprei 150 kg por 80€.

A receita é 4 copos de soja, um copo de farelo de trigo (compro a 0,34€/kg, para animais) e dois copos de farinha de trigo (que compro a 0,55€/kg). MEto tudo a cozer uma hora na máquina do pão e fica tipo broa de milho.

Digamos que o alimento para um dia, 2000 calorias, fica-me por 0,30€. 

Juntando umas couves do campo, ao fim do mês, são 10€ para alimentação, poupou outros 315€.


O que é que notei?

O meu colesterol baixou (porque o bagaço de soja não tem gordura).

Perdi peso, a minha barriga desapareceu e a espessura da minha pele diminuiu. 

A minha massa muscular aumentou muito sem eu fazer trabalho de musculação.

Realmente, para aumentar a musculação é necessário uma alimentação hiper-proteica mas os produtos dos ginásios são extraordinariamente caros. O melhor é bagaço de soja para animais porque é uma proteína completa e muito barata.


Compreendem então a razão das barracas?

Nas barracas começam por poupar 315€/mês e, depois, fazendo "cozinhados tradicionais", isto é, comprado ração para animais, poupam outros 315€/mês.

No fim do mês, em vez de estar completamente falido, mais pobre do que ganhando 90€/mês, a partir de um salário mínimo consegue ter ao fim do mês 630€ o que é uma fortuna quando voltar à terra que o viu nascer.


Soltem os reféns e deixem os desgraçados viver em barracas.

Deve ser permitido haver parques para barracas usando o modelo dos parques de campismo, com electricidade, água e saneamento, um terreno dividido em talhões com 6 x 12 m2 onde quem precisar pode fazer uma barraca.

Estes parques podem ser feitos em terrenos actualmente sem capacidade construtiva sob a condição de não haver destruição nem impermeabilização do solo (a barraca tem de ficar sobre estacas).


Uma casinha para abrigar uma família com filhos pequenos

A palavra Integração é sinónimo de Genocídio

Uma pessoa vem de um país qualquer e tem a sua língua e cultura.

Ao falarmos de Integração, queremos que essa pessoa passe a ter a nossa língua e a nossa cultura, isto é, queremos manter o corpo (para puder trabalhar) mas queremos destruir a língua e a cultura.

O que deve ser dito é que «Os emigrantes têm de manter, no espaço público partilhado com os cidadãos de "cultura portuguesa", um perfil discreto.» 

Da mesma forma que queremos que os portugueses no exterior continuem a ser portugueses, temos de permitir que os estrangeiros em portugal continuem a ser estrangeiros.

A conversão forçada de 1498 dos judeus não foi a "integração dos judeus na cultura portuguesa"?

Não os matavam, apenas quem não "passasse a partilhar a cultura portuguesa" seria expulso do reino.

O que faz falta é um pouco de história crítica, não é de falar de trans ou homos.

Terá de abandonar o reino quem não se quiser "integrar na cultura portuguesa". 


1 comentários:

Daniel disse...

Bagaço de soja para animais não é processado com padrões de qualidade, higiene ou segurança alimentar para consumo humano, podendo conter resíduos de pesticidas, micotoxinas, ou outros contaminantes, acarretando portanto riscos à saúde.

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