Voltare postulou que "O Óptimo é inimigo do bom".
Se olharmos para a Assembleia da República, há 160 deputados em 'partidos da direita' e apenas 70 deputados em 'partidos da esquerda'.
Estranhamente, esta desproporção não foi conseguida pela 'direita tradicional', PSD+CDS, que têm apenas 91 deputados. Para vermos como 91 é pouco, recordo que o Passos Coelho teve 108 deputados, mais 17 do que tem actualmente a coligação que governa, e foi para a oposição.
A desproporção vem de ter aparecido o André Ventura que foi buscar votos à esquerda. Se olharmos para o mapa eleitoral, o André Ventura é mais forte ao sul do Tejo, bastião da esquerda, e não ao norte, bastião da direita.
O André Ventura apareceu como um lobo em pele de cordeiro.
Os esquerdistas apelidaram, desde os primeiros dias, André Ventura de ser extrema direita, fascista, racista, xenófobo, e mais não sei quantas coisas feias mas o seu eleitorado é da esquerda e da extrema esquerda.
Os velhinho do PCP passaram para o André Ventura, estavam fartos do punho no ar não dar em nada.
Os jovens desmiolados passaram para o André Ventura, estavam fartos de promessas que se podem concretizar (sim, querem quem prometa o impossível, a utopia).
Só assim, com o André Ventura a captar o eleitorado esquerdista, é que o Montenegro consegue um governo estável com apenas 91 deputados.
E agora?
Acho muito bem o Montenegro querer fazer coisas, querer levar à prática o desafio do Passos Coelho de que "o poder pelo poder não serve para nada, é preciso reformar".
Mas o André Ventura não pode esquecer que os seus eleitores são ex-PCP, ex-PS e ex-BE.
É o português da classe média-baixa, pessoas que não compreendem porque se faz uma reforma laboral que se aplica apenas aos privados, continuando os funcionários públicos a trabalhar 35h/semana, sem metas de produtividade, salários mais elevados, pontes e feriados que os privados não têm.
E o André Ventura tem de equilibrar a coisa e, com isso, está a proteger a 'direita'.
Tem de 'malhar na direita' para substituir, de vez em quando, a estrema esquerda a quem tirou o eleitorado.
É muito difícil equilibrar o empregador e o empregado.
Num sistema (quase) perfeito, o salário do trabalhador seria em função da produção. Um bocado como os contratos de arrendamento rural antigos, dois terços eram para o arrendatário e um terço para o senhorio.
Mas este sistema apenas funciona quando a tecnologia é simples e mesmo assim, se o trabalhador se esforçasse pouco ou adoecesse, o senhorio via o seu rendimento prejudicado.
Como nos processos produtivos actuais a produção está dependente do esforço de todos, é muito difícil calcular o salário individual justo, bom para o empregador e para o empregado.
Vamos imaginar um cabeleireiro, uma funcionária pode não fazer bons cortes e até ser lenta mas tem uma conversa cativante, que chama clientela para outras funcionárias mais rápidas mas trombudas.
É como o jogador de meio campo, nem marca golos nem faz defesas mas também produz.
Para facilitar o despedimento individual, majorava-se o subsídio de desemprego.
Há um problema no despedimento individual nas empresas pequenas.
Reparem bem, se o patrão não gosta de uma pessoa, não o contrata apenas porque não, apenas porque decide que não o quer. Até pode ter o melhor curriculum do mundo mas prefere outra pessoa, o primo de uma amiga da mãe. Funciona mesmo assim.
Se funciona assim na contratação e ninguém diz nada, também tem de funcionar assim no despedimento. Se, de repente, o patrão deixa de gostar de alguém, tem de ter o poder para o despedir, sem ter de dar explicações a ninguém, rua hoje mesmo.
Se chega alguém a uma empresa e diz "Eu faço aquilo por menos 100€/mês", imediatamente rua com o empregado que está lá.
No entanto, como sociedade, não podemos aceitar esse nível de precariedade.
Cria-se um regime especial para as empresa em que, mediante o pagamento de x% da massa salarial, passam a poder realizar despedimentos individuais e imediatos.
Essa verba seria usada para reforçar o subsídio de desemprego das vítimas de despedimento individual.
Nos primeiros 2 meses, recebem a 100%.
Depois, um reforço de 10% no valor 'normal.
O Dr. André Ventura é que sabe o que é melhor.
Num congresso do CHEGA para escolher as listas de candidatos a deputados, perguntaram a uma senhora delegada, com aspecto de ter sido captada numa aldeia qualquer do interior profundo, como iam ser construídas as listas. A senhora, na sua sabedoria popular, disse "O Sr. Dr. André Ventura é que sabe, ele vai fazer as listas e o que ele fizer, estará muito bem feito."
Como o que ele sabe conseguiu criar um partido de 'extrema direita' que consegue ter 60 deputados eleitos com os votos de quem, tradicionalmente, votava nos partidos da esquerda.
O André Ventura pode ser o próximo Presidente da República.
Passando à segunda volta, pode acontecer.
É difícil? Sim mas a história não fala das vitórias fáceis.
Não conheço nenhum vitória cantada pelos poetas em que o exército vitorioso tivesse 10 vezes mais forças que o vencido.
Em Aljubarrota havia 4 castelhanos para cada português. Grande vitória.
Finalmente
Tenho escrito pouco não por estar desanimado mas por ter escrito outras coisas mais extensas e mais 'científicas' no ResearchGate.
Fiquei admirado de o despedimento da Clara Pinto Correia a ter deitado abaixo. A mim só me dá saúde, durmo as minhas recuperadoras 10 horas, dou a minha caminhada, jogo, escrevo, vejo notícias, penso, leio.
Mais importante do que o despedimento individual seria pôr os tribunais a funcionar.
Não é por causa dos expedientes da defesa nem da complexidade dos processos, pura e simplesmente estão parados. O meu processo está depositado num arquivo qualquer e não anda nem desanda.
Morreu, ninguém quer saber.
O que me safa é que não preciso do salário.
sexta-feira, dezembro 12, 2025


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