Primeiro, tenho de explicar o funcionamento da bomba atómica de Urânio.
O Urânio é um metal que tem no núcleo 92 protões e tanto pode ter 143 neutrões (U235, 0.72% dos átomos) como 146 neutrões (U238, 99.68% dos átomos). Então, o enriquecimento do Urânio é a percentagem de U235 pelo que o valor natural é de 0.72%.
A bomba vive da instabilidade induzida.
Vamos supor que tenho uma massa de urânio e que um neutrão de elevada energia atinge essa massa.
Em média, o neutrão vai percorrer 18 mm até colidir com um isótopo.
Se colidir com o U238, 4.0% dos átomos 'rebentam' e 66.2% continuam rápidos.
Se colidir com o U235, 16.3% dos átomos 'rebentam' e 63.2% continuam rápidos.
O átomo rebentado, são produzidos 2.8 neutrões.
Assumindo que, em média, 65% dos neutrões continuam rápidos, se continuar os seguir, terei que:
Se colidir com o U238, 8% dos átomos 'rebentam'.
Se colidir com o U235, 32% dos átomos 'rebentam'.
Multiplicando pela 'produção' (2.8 neutões por fissão), temos:
Se um neutrão colidir com o U238, produzem-se 0.22 neutrões.
Se um neutrão colidir com o U235, produzem-se 0.90 neutrões.
Para a bomba explodir, tem de ser produzido mais do que um neutrão.
Aqui é que está a importância do U235. É que, quando a energia do neutrão fica menor, uma colisão com o U238 não produz nada enquanto que continua a produzir quando colide com o U235.
Então, como o U235 vai produzir neutrões com todos os neutrões lentos, teremos que vai produzir mais do que 1 neutrão.
Fazendo uma tabela em que vou variando o nível de enriquecimento em U235, mostro que é necessário ter pelo menos um enriquecimento de 86.6% em U235.
Mas o U235 a 60% continua a ser material muito perigoso.
Vamos supor que o Irão pegava nos 400 kg de Urânio enriquecido a 60%, rodeava-os por 1000 kg de Urânio natural, metia num míssil e enviava tudo para o centro de Telavive.
Uma vez caindo, não haveria uma explosão mas tornava-se radioactivo, é a chamada "bomba suja".
Seria muito difícil, talvez mesmo impossível, resolver o problema.
Faz-me lembrar a reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU.
Em tempos escrevi um posto em que disse ser possível a Ucrânia (ou alguém que tenha uma central nuclear) misturar 250 kg de combustível usado com 250 kg de explosivo e fazer assim, muito facilmente, uma bomba nuclear 'suja'.
Dias depois, ao ler o meu poste, o Putin pediu uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU (isto é mesmo verdade).
O Irão tem uma central nuclear em Buxer (reactor VVER-1000) mas, como é controlada pelo Putin, torna-se muito mais difícil os aiatólas terem acesso ao material radioactivo mas mantém-se possível.
Por ser possível é que o Trump telefonou ao Putin para saber até que ponto o material radioactivo da central está seguro.
Vamos supor que o Putin dizia "Não está seguro", imediatamente, teria de haver uma intervenção militar (provavelmente da NATO) para garantir a segurança do material radioactivo.
Uma cosia é certa, U235 a 60% não serve para reactores nucleares civis.
Sim, os reactores usados para produzir electricidade usam enriquecimento inferior a 5% e os reactores compactos usados nos submarinos usam enriquecimento a 20%.
Porque razão o Irão andou a gastar rios de dinheiro a enriquecer o urânio a 60%?
O mais natural é pensar que pretende conseguir os 93.5%!
Não é preciso fazer deduções ao nível do Otávio Machado em que tudo ia parar a Pinto da Costa para o Netanyahu ver perigo nas acções dos Aiatólas.
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