domingo, 25 de agosto de 2013

A floresta e a cultura do eucalípto

Eucaliptos e pinheiros não fazem uma floresta.

Portugal tem bom clima para a criação do eucalipto mas, apesar de serem árvores e serem a principal árvore da floresta australiana, é um erro dizer em Portugal que um terreno lavrado, esterilizado o seu solo e plantado com eucaliptos é uma floresta.
Uma verdadeira floresta é um ecossistema complexo, com dezenas de espécies vegetais que, no caso português, as mais importantes têm que ser as diversas espécies de sobreiros, o castanheiro e, assessoriamente,  o loureiro e o medronheiro e outras recordações da floresta laurissilva que vigorava antes da última glaciação (há 10 mil anos).  Deve ainda ter clareiras e espaços entre as árvores onde possa crescer vegetação rasteira.

Fig. 1 - Para ser floresta tem que ter estas espécies como base (fonte)

Quando vemos os incêndios.
O que vemos arder são pinheiros e eucaliptos que, para termos uma floresta saudável e rica, deveriam desaparecer para todo o sempre juntamente com as acácias que estão a invadir vastas zonas do nosso país.
Se os pinheiros e eucalíptos que ocupam 20% do nosso território contribuem com 0.3%, do nosso PIB, enquanto comunidade devemos defender o fim desta pratica silvícola porque estes terrenos deveriam ser ocupados com floresta diversificada.
Os eucalíptos e pinheiros têm uma produtividade tão pequena e causam um impacto negativo tão grande em termos ecológicos e de uso (porque motivam a destruição da verdadeira floresta) que os bombeiros, em vez de andarem a apagar os fogos nestes terrenos, deveriam usar gasolina para acabar com essas pragas florestais.
Estes terrenos deveriam ser destinados à verdadeira floresta, a quercínea, onde coabitam mais de 7000 plantas diferentes (ver). 

E tem os matagais.
Os meus avós referiam que, no tempo deles, no monte quase não havia árvores. 
A arborização que vemos hoje, em 75% dos casos,  apenas apareceu no Sec. XX (fonte). Até então, havia uma vastidão de terrenos de pastoreio principalmente de ovelhas.
Quando as ovelhas pastam num terreno, nenhuma árvore consegue crescer pois a ovelha come os rebentos. No caso das cabras, o animal embirra com a casca das árvores e marra com os cornos até destruir tudo. Passados uns anos de pastoreio, a floresta fica sem árvores e dá origem a um campo aberto. Depois da Idade do Ferro, a floresta portuguesa apenas resistiu nos terrenos mais acidentados e onde havia o risco de ataque de lobos.
Como as ovelhas não comem a giesta nem as acácias, se o pastor não incendiar regularmente o terreno, estes arbustos tomam conta do terreno e formam um matagal (o maquis degradado).  Por isso, o nosso território evoluiu nos últimos milhares de anos juntamente com o fogo estando o ecossistema florestal preparado para isso. Até há plantas que apenas nascem depois de um incêndio e outras renascem e florescem dias depois do incêndio.

Fig. 2 -  Limpa-se uma faixa de terreno e, depois, num dia frio e sem vento, fogo na coisa.

No SEC. XIX, com a industrialização e emigração, o pastoreio recuou e no SEc XX, com apoio do Estado Novo, avançou a instalação do pinheiro e, a partir dos anos 1960 (com a deslocalização das fábricas de pasta papel dos países mais desenvolvidos para cá), do eucalipto.

Agora, está na hora de entregar a floresta à Natureza.
Respondendo claramente ao jfdr, a floresta deve ser abandonada ao seu destino natural.
Se arder, arde, se não arder, não arde.
Aqui e alí pode haver um contra-fogo, uma queimada preventiva mas a regra deve ser o deixa arder e não o tentar apagar a todo o custo.
Os proprietários florestais devem ter a consciência de que o Estado não pode apagar os fogos florestais. É o risco normal das actividades agrícolas. Tal como pode vir um granizo que destroi as uvas ou um vendaval que destroi as estufas, vem um incêndio que destroi as árvores. Cada um tem que viver com esse risco.
Quanto às ocupação urbana, deve prevalecer face às árvores. Quando uma pessoa achar que os terrenos vizinhos põem em risco as suas propriedades, sem necessidade de fazer prova, deveria ser livre de desmatar o terreno pagando o valor económico do mesmo (0.024€ por ano por m2).
Eu defendo, e os da Quercus têm andado calados, que a floresta industrial de pinheiros e eucalíptos deveria ser destruída. 

Fig. 3 - A limpeza das matas acabou com o pica-pau das nossas florestas

Os incêndios não causam qualquer prejuizo social.
Um incêndio causa prejuízo ao proprietário do terreno mas não existe qualquer prova de que cause prejuízo para o meio ambiente ou para a sociedade.
Se usarmos aquela simulação que eu fiz, o incêndio florestal causa a perda, em média,  da produção de 7.5 anos que corresponde a 0.160€/m2 (o terreno desvaloriza de 2.25€/m2 para 1.09€/m2). Uma pessoa que tenha 5000m2 de árvores tem um prejuízo de 800€. Isto é menos que limpar o terreno um  ano e só arde de longe a longe.
É certo que os incêndios apenas existem porque passam de uns terrenos para os outros. Apesar de parecer uma esternalidade negativa, é uma coisa que faz parte do risco da vida do silvicultor. Hoje passa dali para aqui mas amanhã pode passar daqui para ali. Ninguém acusa ninguém disso, faz parte da exploração silvícola.
E isso de que as árvores fazem oxigénio e absorvem CO2 é um mito pois, para isso, as árvores não podem ser cortadas.
Assim que se cortam (e se destroem), absorvem de novo o oxigénio e libertam o CO2.
Por isso tudo, deixem o fogo andar à vontade.

Fig. 4 - Meninas, baixem as cabecinhas que vêm aí os pica-miolos.

Pedro Cosme Vieira

2 comentários:

jfdr disse...

Caro Pedro Cosme

Agradeço vivamente o seu post, que contêm reflexões interessantes. No entanto, julgo que a análise está sustentada em dados factualmente incorrectos.

O Cosme diz que basta não fazer nada (a estratégia efectiva dos nossos governos nos últimos 20 anos) para o fogo conduzir a uma transição das plantações de árvores para uma de floresta nativa.

Infelizmente, com o frequência actual dos incêndios isso é de todo impossível e o que estamos a assistir é a um triunfo absoluto da giesta, cujo interesse ecológico e económico é inferior quer ao carvalho quer ao pinheiro.

De acordo com http://www.icnf.pt/portal/florestas/dfci/relat/rel-if/resource/fich/2013/5rel-prov em 2013 a área de matos representa 2/3 total da área ardida enquanto em 2003 era apenas 1/3. Estes números suportam a tese de que estamos a evoluir para um regime de maquis e invalidam a sua tese de que o incêndio não provoca externalidades porque o fogo dum silvicultor só vai prejudicar a lucro doutro silvicultor.

Ora, na metade norte do país a propriedade está muito fragmentada e o uso do solo também: se o pinhal começa a arder a seguir vai o souto, o pomar ou lameiro (com a sua galeria ripícola) que estão ao lado. Infelizmente, o uso do solo em mosaico conduz a externalidades.

A actual estratégia de laissez faire aplicada ao nosso território não funciona (nunca vi ninguém ser multado por não limpar um terreno em meio rural). Precisávamos dum cadastro actualizado e impostos elevados para promover o emparcelamento e uma gestão do solo já não digo eficiente mas pelo menos em que as externalidades fossem limitadas.

Cumprimentos
Joao

Económico-Financeiro disse...

Estimado jfdr,
Eu não digo que, deixando o terreno ao Deus dará, os carvalhos tomama conta do terreno. Pensei afirma-lo mas não tenho estudos que o garantam principalmente contra o eucalípto e a acácia que são de florestas (australiana e africana, rsp) adaptadas aos incêndios.
Nem sei se o Eucalípto e a acácia conseguem, sem intervenção humana, invadir a nossa floresta nativa. Mas "ordenar a floresta" (lavrar, e plantar eucaliptos) não ajuda instalar verdadeira floresta.
Já vi trabalhos (que não tenho aqui) que afirmam que,mesmo que arda todos os anos, o maquis (base de giesta + urze + carqueja + tojo), é melhor que o eucaliptal+pinhal na proteção do solo e da vida animal.

Um abraço e obrigado pelos comentários,
pc

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