quarta-feira, 22 de abril de 2020

Quanto crédito podem os bancos conceder à economia?

Para os esquerdistas infantiloides, os bancos são os papás ricos.

"Dá-me uma bicicleta, dá-me um carro, dá-me um apartamento, quero mais, és um forreta"
É a frase que se ouve mais entre as crianças. Pensam elas que os pais são um poço sem fundo e, como dizia o meu irmão mais novos "Paga-se com um cheque, os cheques são tão baratos!" ou a minha irmã que ouvia isto das colegas cujos pais tinham uma chafarica falida, "Mete-se nas despesas da firma".
Acho aceitável que uma pessoa com poucos estudos e cabeça levesinha possa pensar que os bancos estão cheios de dinheiro mas de pessoas que até são professores doutores de economia como, por exemplo, o Louçã, é algo totalmente extraordinário.

Eu quero!

Vamos ao negócio dos bancos.
Os bancos são intermediários entre depositantes e investidores e as suas "máquinas" são os capitais próprios (é dinheiro). 
Tal como uma fábrica não pode funcionar sem os inputs (matérias-primas, trabalho, bens e serviços intermédios) os bancos não podem funcionar sem depósitos (e outras formas de financiamento como obrigações).
Tal como uma fábrica não pode funcionar sem capital (máquinas, instalações, viaturas, conhecimento) um banco não pode funcionar sem capitais próprios.
Para evitar que os bancos vão à falência, os países (através dos acordos de Basel) impõem aos bancos uma "relação de transformação" máxima de 8%. Assim, no máximo, o montante dos depósitos mais outras dívidas só pode ser 11,5 vezes o valor dos capitais próprios. E, naturalmente, o total de crédito não pode ser maior que a soma dos depósitos, obrigações e capitais próprios.
Além disso, as obrigações só podem ser 20% do valor dos depósitos.

Para os bancos poderem emprestar, alguém tem que depositar lá carcanhol.

Vejamos o balanço dos nossos bancos.
A Caixa Geral de Depósitos tem capitais próprios de 8359 milhões € o que traduz que, pelo lado dos capitais próprios, pode conceder créditos um máximo de 8359/8% = 105 mil milhões €.
Neste momento, a CGD tem um total de crédito (que denomina por "activo líquido") de 91334 milhões de € o que traduz que, no máximo, pode conceder cerca de 10000 milhões € em novos créditos (tem disponibilidades noutras instituições de 9233 milhões €).
O BCP tem capitais próprios de 6406 milhões € o que traduz que pode conceder créditos de 6406/8% = 80 mil milhões €. Tendo depósitos de 60 mil milhões €, está limitado a um total de créditos de 72 mil milhões €.
Neste momento, o BCP tem um activo total de 81319 milhões €, superior ao limite de 72 mil milhões € pelo que não pode conceder mais crédito.
Por isso, se os esquerdistas querem que os bancos financiem mais as empresas, que usem a CGD (para, depois, os contribuintes meter lá mais dinheiro).

Porque não é o Estado a conceder crédito às empresas?
Não concede porque, tal como um banco, para emprestar a uns tem que pedir emprestado a outros.
Tem que aumentar a dívida pública para poder emprestar às empresas.
E a questão que se coloca é "Até que montante conseguirá o Estado Português endividar-se sem as taxas de juro voltarem a subir para os níveis de 2011?"
Entre 2 meses, a taxa de juro da dívida a 10 anos multiplicou por 8. Assim, em Fevereiro era de 0,17%/ano e agora é 1,3%/ano.
E a Grécia passou de 0,92%/ano para 2,6%/ano.
Sinais de perigo principalmente quando devemos 270 mil milhões €.

Queremos uma solução europeia.
Este grito dos países do Sul é uma criançada semelhante a querer que o Estado financie a economia ou que sejam os bancos com aval do estado.
Para a "Europa" conceder crédito ou dar dinheiro aos países, precisa de se endividar junto de outros.
E esses outros não existem.
E, depois, é preciso pagar aos credores.

Avança Costa que a Europa vai arranjar uma solução sem austeridade.

2 comentários:

Silva disse...

270 000 000 000 de euros


Os canalhas dos eleitores que avalizaram esta merda em eleições, não irão perder pela demora e terão o que realmente merecem, ou seja, o habitual aumento de impostos.


Toninho disse...

Os bancos podem criar produtos derivados da sua carteira de crédito, empacotando-os em obrigações garantidas por créditos (os famosos MBS por exemplo) e depois vender estes produtos diretamente a investidores retirando-os do seu balanço.

Depois quando o BCE "injeta" dinheiro no sistema financeiro adquirindo obrigações com rating de "investimento" no mercado secundário, os investidores que vendem ao BCE ficam com dinheiro disponível novamente e o ciclo recomeça. Assim a quantidade de crédito não tem limite enquanto o BCE continuar a injetar dinheiro, com o risco de a inflação explodir a qualquer momento (o que já aconteceu por exemplo no imobiliário com valorizações percentuais anuais contínuas de 2 dígitos devido a todo o capital que chega ao mercado, efectivamente tirando o acesso à propriedade da habitação do alcance da classe média e média baixa).

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