terça-feira, 31 de agosto de 2021

Daqui a um ano, ninguém se vai lembrar do Afeganistão

O Afeganistão é um país muito pobre.

O nível de vida no Afeganistão é muito baixo. Se acham que vivemos mal, o nível de vida de um afegão é 6% do nossos (Medido pelo PIB per capita em paridade do poder de compra). 

70% das pessoas sobrevive com base numa agricultura de subsistência (nada de estufas, como os esquerdistas gostam), da mesma forma que se sobrevivia no nosso interior no tempo do Marquês do Pombal.

Se pegarmos nos dados disponibilizados pelo Banco Mundial, o Afeganistão está no "meio de África". 

Logo abaixo em pobreza, tem 12 países africanos (Burundi, Somália, República Centro Africana, Rep. Dem. do Congo, Níger, Moçambique, Malawi, Libéria, Madagáscar, Chade, Serra Leoa e Guiné-Bissau) e, ligeiramente acima, tem 10 países africanos (Togo, Rwanda, Burkina Faso, Etiópia, Uganda, Gâmbia, Mali, Guiné Conacri, Tanzânia e Lesoto).

Para vermos como nos vamos esquecer do Afeganistão, sendo que nestes países africanos vivem 15 vezes mais pessoas do que no Afeganistão, passam-se semanas em que a TV não lhes faz uma única referência.


Faz-me lembrar o problema dos "200 cães e gatos" que foram repatriados de Cabul.

Quantos cães e gatos passam fome em África?

Quantos cães e gatos são guardados religiosamente na Coreia do Norte para poderemser comidos por  crianças subnutridas?

Alguém se importa com isso?

Eu importo-me muito mas devo ser o único! Nem nunca ouvi a anafada do PAN referir aos animais explorados em África.


Alguém quer saber se estas crianças africanas vão à escola? Então porque se fala tanto do Afeganistão?


Quem quer ajudar tem que ter a superioridade de espírito para não ajudar.

Nos sábados vou dar uma caminhada junto à praia faz anos e desde sempre passou por mim um sem abrigo que tem a mioleira queimada. Conversava com ele um bocadinho e ele dizia sempre qualquer coisa (apesar de a maior parte da conversa ser repetição do que eu digo).

Há cerca de um mês reparei que estava muito sujo, com a roupa encardida.

"Tem a roupa muito suja!" disse eu.

"Tenho a roupa muito suja" disse ele.

"Não tem quem lhe lave a roupa?" perguntei.

"Não tem quem lave a roupa" respondeu.

"Quer que eu lhe leve a roupa e lha traga para a semana lavada? Perguntei.

"Está bem, quero que leve a roupa e a traga para a semana lavada." Disse.

Por caridade, dei-lhe um saco e disse "Vá à sua barraca, meta a roupa neste saco que passo lá daqui a bocado, levo-a e trago-a para a semana lavada."

"Está bem, vou à barraca meter a roupa neste saco." Disse.

Fui lá passadas umas horas e nada.

Estava metido dentro de um tenda como um bicho, com tralha e dois cobertores muito encardidos.

"Quer que lhe lave os cobertores?"

"Está bem. quero que lave os cobertores."

Como não podia ficar sem eles, dei uma volta pelo linho que vai acumulando e encontrei  cobertores cheios de lixo e já a começar a apodrecer. Estive a espalhá-los para os poder tratar na semana seguinte.

Agora, sempre que me vê, foge. 

Pensei eu "Continua que vais no bom caminho, é menos prejuízo e trabalho que tenho, em Moçambique vivem de forma pior e ninguém que saber".


Os afegãos querem os talibã.

Não era possível os talibã tomarem o poder se não tivessem aceitação na comunidade.

Basta ver que as mulheres fogem do Afeganistão com "medo dos radicais talibã" mas, chegadas ao ocidente, não largam os panos a tapar a cabeça.

Agora, vão passar fome mas também se passa muita fome nos 22 países africanos que identifiquei (e, excepto eu e o Guterres, ninguém se preocupa).


Vejamos uma descolonização exemplar.

Descolonizar é retirar os efeitos da colonização.

Quando, em Outubro de 2001, os americanos iniciaram a invasão do Afeganistão, o país tinha 22 milhões de habitantes. Decorridos 20 anos, tem 40 milhões.

Para se "repor a situação inicial" será preciso que se "percam" 18 pessoas em cada 40.

Parece impossível mas não é. Por exemplo, em 10 anos, a Síria que é um governo menos fundamentalista (muito menos que o PAN) "perdeu" 9 pessoas em cada 40. O Afeganistão só tem que "tomar uma dose dupla do medicamento".

Em África há milhões de crianças que vivem pior que os bichos do João Moura e se nem o PAN  se lembra delas, alguém se vai lembrar do Afeganistão?


2 comentários:

Silva disse...

No Afeganistão, obviamente o dinheiro irá acabar (é preciso sustentar 38 milhões de pessoas) e lá terão que voltar novamente ao cultivo da papoila para produção de ópio e assim irem financiando o regime.

Anónimo disse...

A invasão do Afeganistão pelos EUA foi sobretudo para decapitar os lideres da Al Qaeda que planeavam ataques terroristas. E resultou. Não plenamente, porque ainda tivemos Bali, Istambul, Londres e Madrid, mas a coisa amainou depois de apanhados alguns dos cabecilhas. Um dos primeiros trutas a ser caçado até foi o planeador dos ataques aos EUA e o OBL foi um dos últimos, em 2011. Depois em 2014 começou um novo tipo de ataques, em Paris, com o ataque ao Charlie Hebedou. Mas aí a Al-Qaeda já nada tinha a ver com o assunto. Quando vejo os esquerdalhos do costume na televisão a dizer e a invasão ao Afeganistão foi um falhanço total, dá-me vontade de os ver a explodir num atentado qualquer. Quanto a "exportar democracias, também sou céptico, mas acredito que ao fim de 20 anos a provar um pouco de liberdade, uma nova geração não engolirá com tanta impassividade as treats fundamentalistas dos fanáticos religiosos

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