quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Será a Iniciativa Liberal mesmo liberal e de direita?

Esta questão foi levantada por André Ventura no debate para as presidenciais.

Para decidirmos se a Iniciativa Liberal é de direita, temos que ver o que é ser de direita.

Em termos genéricos, a Direita defende a liberdade individual (o bem colectivo surge da decisão do indivíduo na sua procura pela felicidade própria), enquanto que a Esquerda defende ser necessário o Estado comandar a vida individual das pessoas porque o interesse individual, na maior-parte das vezes, prejudica o colectivo.

O Estado "controla" a economia usando 4 vectores principais: i) Produtor de bens e serviços, ii) Proibição de certas actividades privadas, iii) Transferência entre uns (que pagam impostos) e outros (que recebem subsídios), iv) Determinação administrativa de preços, salários, taxas de juro e de câmbio.

Então, a Direita defende "menos Estado", o que está condensado no Consenso de Washington (ver).

Reduzir o peso do Estado na Economia:

    Equilíbrio das contas públicas e redução da dívida pública.

    Redução dos gastos públicos.

    Privatização das empresas públicas.

    Redução das limitações às actividades privadas. 

Não haver controle administrativo de preços:

    Taxa de Juros, Taxas de Câmbios, Preços e Salários devem ser determinados pelo mercado.

Abertura da Economia ao exterior:

    Não deve haver tarifas nem barreiras ao comércio internacional.

    Não deve haver barreiras ao Investimento Directo Estrangeiro.

 

Será que existe algum partido que defenda estes "valores" da Direita?

É difícil porque a propaganda esquerdista conseguiu introduzir na mente das pessoas que ninguém precisa pagar o que o Estado dá.

O Estado mete milhares de milhões na TAP e o único problema é que "a União Europeia não permite meter todos os anos dinheiro que cai do céu para salvar uma empresa estratégica para Portugal".

O Estado mete subsídios nos restaurantes, dinheiro que, mais uma vez, cai do céu, aos trambolhões.

O Estado aumenta o salário mínimo em 30€/mês para 665€/mês e ficamos todos contentes porque isso "vai melhorar a economia por ser um reforço do poder de compra dos portugueses" o que tem implícito que quem vai pagar esse aumento são os espanhóis.

Como na mente ignorante existe a separação entre nós que recebemos e o outro, o grande capital, que paga, torna-se muito difícil defender os valores da Direita que sofrem imediato ataque serrado da comunicação social esquerdista.


Vejamos a "grande reportagem" sobre o André Ventura.

O único objectivo é a destruição de caráter e não a discussão das ideias de Direita.

Primeiro, é total ilegalidade, apresentar um programa, seja a denegrir ou elogiar, sobre um candidato à presidência da república a dias das eleições.

Segundo, não falam dos valores da Direita mas procuram apenas a destruição do carácter de quem defende essas ideias. Nem o Salazar usou a televisão para fazer campanha contra o Humberto Delgado. 


Perdem uns, ganham outros.

Implementar os valores de Direita têm impacto na vida das pessoas, positivo em alguns mas negativo em muitos.


A Direita defende o fim do salário mínimo e dos subsídios.

O fim da intervenção no mercado de trabalho "obriga" a dar liberdade contratual às partes. Isso passa por acabar com o Salário Mínimo (ou a reduzir-lhe o impacto, fazendo-o igual ao IAS que, actualmente, é de 438,81€/mês) e com a Negociação Colectiva de Trabalho. Obriga ainda ao fim do princípio de que duas pessoas com a mesma categoria profissional têm que ganhar o mesmo salário.

Obriga ainda a reduzir as "transferências sociais", passando o sistema de reformas a ter menos pesado (pensões e contribuições menores).

Deve ser reduzida a carga fiscal sobre as empresas (fim do IRC) mas, em caso de crise, quem não se aguentar tem que falir, nada de subsídios.  Perguntei aos meus alunos "Se não houver qualquer subsídio público, será que vai deixar de haver restaurantes?" e a resposta unânime foi "Não. Uns irão à falência mas outros aparecerão". 

Recordo que os subsídios dados aos restaurantes, apesar de parecerem inócuos, vão ser pagos por todos nós. Mesmo o dinheiro que vem da "europa", vamos ter que o devolver sob a forma de contribuições futuras pois o "dinheiro" ainda não nasce nas árvores.

Se os dinossauros não se tivessem extinguido, nunca os mamíferos (de que nós somos um exemplo) poderiam ter vingado.

 

A Direita defende que a produção deve ser nas empresas privadas .

Defende os professores mas as escolas não devem ser propriedade pública. Se o Estado quer que todas as crianças andem na escola, dá um "cheque" ao aluno e este, com total liberdade, escolhe a sua escola seja de propriedade pública ou privada.

Defende os enfermeiros e os médicos mas os hospitais não devem ser propriedade pública. Se o Estado quer que todas as pessoas tenham acesso à saúde, deve dar um "cheque" ao doente e este, com total liberdade, escolhe o hospital onde quer ser tratado ou centro de saúde onde quer ser seguido, seja de propriedade pública ou privada.

Defende os polícias mas as esquadras e as prisões não devem ser propriedade pública. Da mesma forma que vemos seguranças privados nos hospitais públicos e "controladores" de estacionamento nas estradas públicas, a segurança também deve ser concessionada a privados.

 

Vejamos a TAP.

É uma empresa pública falida mas em que as dívidas estão garantidas pelo Estado (é dívida pública). Assim, se a TAP fechar hoje, o Estado tem honrar essas dívidas que serão uns 3000 milhões €. Esta dívida vem do passado e tem que ser honrada. Outra questão é o que fazer com a TAP no futuro.

No futuro tem que ser privada e rentável. Se o Estado pensar que a TAP é estratégica deve fazer transferências anuais a partir do orçamento do estado (como faz com as empresas de transporte colectivo de passageiros) para o privado, por exemplo, 300 milhões € por ano mas não pode ter uma empresa pública onde esconde défices, à moda de Moçambique, e dizer que está tudo bem.

Não é ter uma TAP privada em que é o presidente da câmara do Porto que decide que rotas a empresa deve ter, é ter uma empresa privada que tem que ser rentável mesmo isso obrigue a ter uma dimensão substancialmente menor.

 

Vamos falar um bocadinho dos estrangeiros.

A liberdade individual defendida pela Direita deve-se traduzir em liberdade de movimentação de pessoas, logo, a entrada de imigrantes. 

O problema é que quem vota é português!

Como já repeti, defendo que deve haver total liberdade de entrada em Portugal a todas as pessoas que queiram vir trabalhar mas não se lhe podem ser aplicados os mesmos direitos que aos portugueses.

Por exemplo, um agricultor ao contratar 500 pessoas do Bangladesh para trabalhar nas suas estufas deve ser livre de negociar as condições do contrato (salário, alojamento, alimentação, horário). Se essas pessoas ganham actualmente na sua terra 0,50€/h, não será explorá-los pagar-lhes a viagem, alojamento e alimentação e ainda 1,0€/h. Não é defender essas pessoas proibir que venham para cá ganhar 1,00€/h.


A conclusão fica com cada um.

Agora, quando ouvirem o Mayan e o Ventura já poderão ver que há muita coisa que não é de Direita.



4 comentários:

Jaa disse...

Mais importante do que discutir o que é de esquerda ou direita é o sexo dos anjos

Novas Oportunidades de Franchising disse...

Assim sendo, não há partidos de direita com representação parlamentar em Portugal!


Se bem me recordo, li algures no Wikipédia sobre esquerda e direita, e fiquei admirado porque a social-democracia, em Portugal julgo ser o PSD, ser considerado de esquerda.

É mesmo assim?

Anónimo disse...

Disse coisas inconvenientes, já levou com a máfia PS. Estes estudantes, fariam corar a PIDE do Estado Novo.

Uma vergonha o que lhe fizeram, trastes!

Miguel Madeira disse...

"Se bem me recordo, li algures no Wikipédia sobre esquerda e direita, e fiquei admirado porque a social-democracia, em Portugal julgo ser o PSD, ser considerado de esquerda"

Claro que a social-democracia é considerada de esquerda - quase todos os grandes partidos por esse mundo fora com "social-democrata" no nome (os alemães, os suecos, os dinamarqueses) estão na Internacional Socialista (representada em Portugal pelo PS)

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