Tive sempre dúvidas que criassem uma vacina.
Confesso que, felizmente, errei.
Comparando com outras doenças víricas como, por exemplo, a Herpes, para as quais nunca se criou uma vacina, pensei que seria muito difícil criar uma vacina para a Covid-19. Errei e já foram criadas várias vacinas que reduzem mais de 90% a probabilidade das pessoas adoecerem.
A medida medida da eficácia da vacina é estatística. Por exemplo, vacinam-se 1000 pessoas, ao longo de um ano contamos quantas pessoas adoecem (por exemplo, 0 pessoas) e comparamos com 1000 pessoas que não foram vacinadas (adoeceram, por exemplo, 100 pessoas). Neste exemplo, a vacinação é eficaz a 90% porque evita nas pessoas vacinadas (100-10)/100 = 90% dos casos.
A vacinação vai avançando e, quando todas as pessoas estiverem vacinadas, o vírus desaparecerá para sempre.
Isso é o que pensam os optimistas!
E eu sou pessimista :-(
Para compreenderem a razão para eu ser pessimista, vou ter que falar um bocadinho de genética e de Evolução das Espécies.
O vírus SARS-Cov-2 é uma molécula de RNA.
Essa molécula codifica uma sequência com zeros e uns com 29903 dígitos. Por exemplo,
00101101010101010101000001111110001101010101010111101010101010 ...
Esta sequência contêm instruções para a junção de aminoácidos na produção de 50 proteínas sendo que 43 destas proteínas servem para "dominar" a célula hospedeira (desactivar o seu sistema imunitário) e 7 proteínas são a estrutura do vírus.
Vamos supor que as proteínas se chamam P1, P2, P3, ..., P50.
Alelos.
As proteínas são moléculas muito complexas que, mesmo com a mesma função biológica, podem ser diferentes, por exemplo, há pessoas que têm a hemoglobina a enrolar para a direita ou outras a enrolar para a esquerda. As proteínas podem mesmo ser totalmente diferentes e manterem a mesma função biológica mas com outro "aspecto", por exemplo, as pessoas podem ter olhos azuis, verdes, castanhos, pretos, âmbar, etc.
Imaginando que inicialmente os elementos de uma espécie eram todos iguais, ao longo do tempo, seja por causa das mutações ou das recombinações durante a reprodução (Por exemplo, cruzando um cão castanho com um cão preto surgir uma cão às manchas), vão surgindo novos alelos.
No caso do vírus teremos alternativas, por exemplo, (P1a, P1b, P1c), (P2a, P2b), P3, ..., (P50a, P50b, P50c) e os vírus "concretos" vão ser combinações destes alelos, por exemplo:
P1b, P2a, P3, ..., P50c
P1b, P2b, P3, ..., P50a
P1a, P2b, P3, ..., P50b
Frequência dos novos alelos na população.
Os alelos são importantes para a espécie se adaptar ao meio ambiente que está em constante mudança.
Vamos supor que uma borboleta branca tem 1000 filhos e pousa em folhas verdes para se alimentar. Como o branco contrasta com o verde, a grande maioria das borboletas vai ser comida pelos predadores escapando apenas uma até se reproduzir. Neste caso, o R é igual a 1 (a cada geração, mantém-se o número de borboletas).
Se houver uma mutação em que a borboleta fica vermelha, continua a ser visível pelo que não vem dai nenhuma vantagem para a borboleta. Então, a frequência vai-se manter baixa. Se, inicialmente havia 10000 borboletas, a nova borboleta será 0,01% do total e esta frequência vai-se manter assim baixa (o R da nova variante mantém-se igual a 1).
Se houver uma mutação em que a borboleta fica esverdeada, fica menos visível pelo que ganha uma vantagem face às outras borboletas. Então, dos 1000 filhos menos serão comidos o que faz com que a frequência desta característica vá aumentando geração após geração (o R da nova variante é superior a ! o que implica, por esgotar dos recursos, que o R da variante "normal" cai abaixo de 1). Se, inicialmente havia 10000 borboletas, a nova borboleta será 0,01% do total mas, ao fim de uns anos, já será a característica dominante.
A cor da pele das pessoas.
A cor da nossa pelo é codificada por várias proteínas (vários genes) e "escolhendo" os genes certos podemos obter uma variedade muito grande de tons de pele desde o branco claro que observamos nas pessoas que vivem nos países frios e com pouca luz solar ao muito escuro das pessoas que vivem próximo do Equador (países quentes e com muita luz solar). Isto acontece porque, por um lado, a luz do sol é importante para a síntese da vitamina D (obriga as pessoas dos países frios a ter pouca pigmentação para o Sol entrar) mas causa danos celulares que levam ao aparecimento do cancro da pele (obriga as pessoas dos países quentes a ter muita pigmentação para o Sol não entrar).
As pessoas com pele claro morrem mais quando vivem em países com muito sol (por cancro na pele) e as pessoas com pele escura morrem mais quando vivem em países com pouco sol (deficiência de vitamina D).
Mas onde estão as nuvens negras?
É que, actualmente, já se identificaram cerca de 4000 variantes de SARS-Cov-2!!!!!!
Destas 4000 variantes, 3993 têm um R idêntico e 3 (do Reino Unido, do Brasil e da África do Sul) têm um R cerca de 50% superior. Então, com o decorrer do tempo, a frequência das 3 mais contagiosas vai aumentando e a frequência das 3993 variantes "normais" vai reduzindo.
Vacinam-se todas as pessoas e, depois ...
É estatisticamente impossível que as vacinas actuais consigam bloquear todas as 4000 variantes que existem. Então, quando estivermos todos vacinados, haverá variantes que actualmente são raras porque não têm qualquer vantagem face às outras variantes e que se tornarão dominantes por serem capazes de "resistir" às vacinas.
Claro que, se formos optimistas, demorará apenas 2 meses a "melhorar" a vacina para fazer face a uma variante que se torne dinâmica mas, se formos pessimistas, por recombinação das 4000 variantes existentes, podem surgir diariamente variantes "resistentes" à nova vacina.
Espero enganar-me novamente!!!
4 comentários:
Claro que está errado, biologia nao é (só) estatistica..! :)
Mais facilmente aparece outro vírus, e estaremos todos mortos
Venho por este meio mostrar solidariedade com o autor deste blogue que já foi vítima da máfia PS! Estudantes que deixariam a PIDE a corar de vergonha. Trastes doutrinados, uns idiotas úteis como diria Lenin!
Alguém no poder se sentiu incomodado, eheheheh
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