O Governador do Banco de Portugal disse umas coisas.
Alegadamente, em Portugal existe liberdade de expressão. Digo que é alegadamente porque, quando alguém diz algo que não agrada, logo lhe caiem os cães em cima.
As pessoas diminutas (e que se intitulam como sábios) pensam que a liberdade de expressão é os outros poderem dizer o que elas querem ouvir mas estão enganadas. A liberdade de expressão é podermos dizer o que entendemos mas com a obrigação de ouvir o que os outros lhes apetece dizer mesmo que contrário ao que pensamos.
Se houvesse liberdade de expressão, o governador do Banco de Portugal teria a liberdade de dizer o que lhe vai no pensamento mesmo que contrário ao que pensam outras pessoas nomeadamente o sábio catedrático em economia, passo a singular porque neste momento só sobra um.
Vamos ver o que disse o Governador do Banco de Portugal.
Posso resumir tudo ao adágio popular "Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém".
Portugal não tem no orçamento de estado para 2025 qualquer verba de ajuda à Ucrânia, zero euros. Como não faz qualquer sentido serem os USA a financiar a Ucrânia, vai ser preciso Portugal meter alguns milhares de milhões de euros de parte para substituir o financiamento americano.
Claro que estou a ouvir o Montenegro afirmar que "é preciso manter o direito internacional e a integridade do território ucraniano" mas omite que a Rússia não vai aceitar isso só por bonitas palavras, que vai ser preciso muito dinheiro para forçar o Putin a respeitar a Europa. A palavra é mesmo "forçar".
Em particular, o governador disse que descer o IRC (e o IRS dos mais jovens) é um erro porque é preciso compensar a diminuição da receita fiscal com outros impostos.
Ai veio o sábio catedrático dar-se às dores.
Afirma o sábio que não é preciso compensar a descida das taxas de impostos porque a receita em impostos vai aumentar. Fundamenta esta atordoada com "é bem provável que estejamos na parte descendente da curva de Laffer no IRC".
Então um sábio não fazia um estudo, recolhia uns números, fazia umas contas para fundamentar a sua afirmação bombástica de que descer impostos aumenta impostos?
Não, usa um achismo.
E depois vem com uns números totalmente errados.
Reparem bem, o crescimento do PIB é uma velocidade e, portanto, medido em percentagem por ano. Diz o governador, e estudou o assunto, que diminuir o IRC em 1 PONTO PERCENTUAL, aumenta a taxa de crescimento em 0.1%/ano.
Quer isto dizer que, se hoje a taxa de crescimento é de 2.0%/ano, passa a ser 2.1%/ano daqui para a frente. Daqui a 10 anos, a economia estará 1,0% acima do que estaria sem redução do IRC.
Não é que o crescimento está maior em 1.0%/ano (passar de 2%/ano para 3%/ano), é o PIB que está maior em 1.0%.
Por comparação, vejamos um carro.
Um carro estar a 100km de Lisboa é totalmente diferente de andar a 100km/h.
Já imaginaram serem mandados parar por um polícia e ouvirem "Vou multá-lo por excesso de velocidade porque está a 100km de Lisboa e nesta estrada só se pode circular a 50km/h"?
De igual forma, aumentar a distância em 1 km é muito diferente de aumentar a velocidade em 1 km/h.
O sábio transcreve então um estudo da da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS)
"O Impacto do IRC na Economia Portuguesa"
"(...) uma redução de 7,5 p.p. da taxa [do IRC induz] um aumento do PIB em cerca de 1,44% no curto prazo (dois anos após a reforma), e 1,4% no longo prazo (após dez anos)".
Primeiro, olhemos para as unidades. O aumento é de 1.4% ao longo de 10 anos (e não +1.4%/ano no crescimento) o que quer dizer que a taxa de crescimento do PIB aumentaria 0.14%/ano, passaria de 2,0%/ano para 2,14%/ano.
Segundo, olhemos para a magnitude, "redução de 7.5 pontos percentuais [no IRC]" quando a redução na taxa de IRC prevista no OE2025 é de 1.0 ponto percentual.
Pelo próprio estudo apresentado pelo Sábio catedrático em economia, a redução em 1 ponto percentual no IRC vai causar um aumento no crescimento no PIB, ao longo de 10 anos, de +0.02%/ano.
Aumento na taxa de crescimento do PIB = 0.14/7.5 = +0.02%/ano
Reparemos que o resultado do estudo apresentado pelo sábio catedrático em economia é muito menor que o valor apresentado pelo governador do Banco de Portugal.
O governador diz que o impacto é de +0,1%/ano enquanto que o estudo diz +0.02%/ano.
O compadre Venâncio diz:
- Se o compadre der mais comida ao seu burro ele vai andar 3km/h mais rápido.
E o compadre Inácio responde "O compadre Venâncio não sabe o que diz, vai aumentar muito mais, tenho um estudo que garante que vai aumentar 1km/h."
Pergunta o compadre Venâncio "Mas 1km/h não é menos que 3km/h?"
E o compadre Inácio responde "Eu é que sou o sábio catedrático, o compadre Venâncio não sabe nada."
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