O leilão é a forma mais eficiente e rápida de afectar recursos escassos.
Da mesma forma que a comunicação social não pode colocar GNRs a falar sobre operações ao coração, também não pode meter advogados a falar sobre leilões de electricidade. Mais grave ainda é termos ignorantes a decidir sobre essas coisas.
Por exemplo, um automóvel Tesla usa aço, cobre, alumínio, baterias, pneus, câmaras, processadores, programas (bens intermédios), que vai adquirir a alguém ao melhor preço.
A eficiência económica implica que os produtores que têm custos de produção mais baixo são os primeiros a vender e os consumidores que dão mais valor ao bem são os primeiros a comprar. Este princípio traduz-se na curva de oferta e na curva da procura.
O preço fixo do supermercado.
Quando vamos ao supermercado, o preço é fixo, o que se denomina em economia como um mercado "take it or leave it". Mas nos mercados de "especialistas" existe negociação de preço e, quando existe concorrência, a melhor forma de negociar o preço é através de um leilão.
Por exemplo, o milho, trigo, soja, arroz, óleo de palma, de soja, de milho ou de amendoim, carne de porco, de frango ou de boi, leite, banana, petróleo, gás natural e electricidade são transaccionados, entre especialistas, em leilões que se denominam por "bolsas de mercadorias".
Apesar de no supermercado termos um preço fixo, esse preço é determinado indirectamente por um leilão porque o preço fixo considera o preço da "bolsa de mercadorias". Além disso, o supermercado vai ajustando, semana após semana, o preço na procura do ponto de lucro máximo.
O leilão de muitos compradores e muitos vendedores.
Cada vendedor tem um preço de custo e cada comprador atribui um valor ao bem.
A eficiência da economia obriga a que apenas os vendedores com menor custo de produção consigam vender e que apenas os compradores que dão maior valor ao bem consigam comprar.
Se o custo de fornecer água à minha casa pela empresa "Águas de Lisboa" é de 100€/m3 e se o custo da empresa "Águas Daqui" é de 1€/m3, a eficiência económica obriga a que seja a empresa "Águas Daqui" a fornecer-me a água.
Mas os custos de produção e os valores atribuídos são informação privada.
Essa informação vai ser parcialmente revelada no preço.
Quando no supermercado vejo bolachas a 0,95€/pacote, isso revela que o custo de produção é inferior a 0,95€/pacote. Mas havendo "bolachas A" a 0,95€/pacote e "bolacha B" a 0,95€/pacote (bolachas iguais), o custo de produção da "bolacha A" pode ser 0,50€/pacote e a "bolacha B" ser 0,90€/pacote.
A "bolacha A" ter um custo de produção menor que a "bolacha B" não obriga a que seja vendida a um preço menor. Se o produtor da "bolacha A" tem uma margem maior é porque é mais eficiente a produzir que o produtor da "bolacha B" e não por estar a "explorar o consumidor". A margem acrescida vem do seu esforço em aumentar a eficiência do processo produtivo.
Aos esquerdistas custa a compreender que o progresso da humanidade apenas acontece quando as pessoas que conseguem optimizar os processos produtivos recebem uma remuneração, um lucro, superior à dos outros. Talvez por causa de procurarmos a maior remuneração (com certeza), as notas de candidatura a medicina é muito elevada (os médicos ganham mais que os historiadores).
A negociação do preço.
Em muitas transacções o preço não é fixo, havendo a possibilidade de negociação.
Imaginemos que o bem vale para mim 100€ (valor que não vou dizer a ninguém), o custo de produção é de 50€ (que só o vendedor sabe) e o preço de venda é de 90€.
Apesar de o preço me permitir ter uma margem de 10€, vou tentar baixar este preço para aumentar a minha margem. Recordo que a negociação acontece sem eu conhecer que o custo é 50€ e sem o vendedor saber que eu valorizo o bem em 100€.
O vendedor vai baixar o preço se pensar que o valor que dou ao bem é inferior a 90€ (risco de eu abandonar o mercado sem comprar).
Vamos ao leilão.
Se tivermos muitos agentes económicos a negociar, o processo é lento e consome a paciência dos negociadores. O leilão vai permitir a negociação entre muitos agentes económicos num só passo.
Supondo que existem 100 vendedores e 100 compradores, cada um dá a sua proposta e, de um momento para o outro, o leilão determina o preço da transacção.
Sendo o leilão um processo rápido, com custos baixos e que permite compatibilizar em simultâneo milhares de agentes económicos, Paul Milgrom e Robert Wilson provaram que é eficiente (e, por isso, ganharam o prémio Nobel da economia de 2020).
Vamos ao exemplo do leilão de "carta fechada".
Vamos supor que existem 2 vendedores (cada um com o seu custo) e 15 compradores (cada um com o seu valor).
O vendedor A produz um máximo de 1000kg a 0,50€/kg e seria bom vender a 0,53€/kg mas os seus cálculos aconselham a que peça 0,95€/kg. Já o vendedor B produz um máximo de 1000kg e tem custo de 0,90€/kg e pede 0,93€/kg. Cada comprador vai adquirir 100kg (no final, são adquiridos 1500kg).
Neste leilão, o vendedor B que vai produzir e vender 1000kg e o A vai produzir e vender 500kg, um custo médio de produção:
(500*0,5+1000*0,9)/1500 = 0,77€/kg.
Motivado por "erro de cálculo" por parte do vendedor A, esta transacção não promove a eficiência económica que obrigava a que fosse o vendedor com menor custo a produzir mais:
(1000*0,5+500*0,9)/1500 = 0,73€/kg.
Mesmo que haja um milhão de vendedores e 100 milhões de compradores, uma vez submetidas as propostas, o preço da transacção demora apenas um segundo a ser determinado.
A repetição do leilão ao longo do tempo.
A eficiência acaba por acontecer se o leilão se repetir todos os dias (o vendedor A acaba por baixar o seu preço até 0,92€/kg). No entanto, persiste o problema de 1) ser necessário fazer muitas contas na fixação do preço e 2) havendo constantes alterações dos custos de produção, é difícil "acertar" nos preços correctos (os preços eficientes). Estes problemas introduzem ineficiências na economia.
Leilão de "segundo preço".
O leilão da electricidade (e de muitas outras coisas) é um leilão de segundo preço.
Milgrom e Wilson provam é que, de todos os leilões eficientes possíveis de imaginar, o leilão de "segundo preço" é o melhor.
Neste leilão, o preço de transacção é igual para todos e independente do preço pedido pelo vendedor (ou oferecido pelo comprador). Se, por exemplo, o vendedor A pede 1€/kg, o B 2€/kg e o C 3€/kg, se o preço de transacção for 2,5€/kg, os vendedores A e B vão receber este preço e o vendedor C não vende.
Milgrom e Wilson provam sem margem para dúvida que todos os leilões são, em termos médios (que em estatística se chama 'valor esperado'), iguais mas o leilão de segundo preço é o melhor de todos porque os agentes económicos não precisam fazer contas, basta dizerem o seu custo de produção (os vendedores) e o valor que dão ao bem (os compradores).
Poderá o António Costa impor que os vendedores recebam apenas o custo de produção?
O problema é que, se os vendedores souberem que o preço que vão receber é o preço que pedem, vão começar a fazer contas e passam a pedir um valor superior ao custo. Voltamos assim ao leilão "em carta fechada" em que as propostas não traduzem os custos (nem os valores dados pelos consumidores).
Acaba-se com a eficiência.
Será possível o António Costa garantir que a electricidade não vai encarecer?
Só se fizer como na TAP, STCP, CARRIS, EFACEC, ..., enterrar lá dinheiro sem fim.
O preço da electricidade aumenta porque neste momento o consumo de energia é superior à produção de energia. Este consumo exagerado traduz-se na diminuição dos stocks de gás natural e de petróleo.
Este desequilíbrio ajusta-se pelo aumento do preço que vai causar, por um lado, a diminuição do consumo e, por outro lado, o aumento da produção.
Se o custa quer baixar o preço no consumidor, o consumo, em vez de diminuir, irá aumentar. Também querendo penalizar os produtores, em vez de aumentar a produção, irá diminuir.
No final, vamos ter um Inverno com cortes de energia eléctrica.
Isto já foi experimentado em muitos países, recordo a Venezuela! em que as pessoas têm que usar geradores a gasolina.
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